Várzea Grande, uma cidade onde os grandes são pequenos e os pequenos são grandes. Várzea Grande é fênix, pois renasce dos desastres administrativos ano após ano. Várzea Grande é povo que trabalha, e quando não há trabalho remam para encontrá-lo. Várzea Grande é a porta do céu para quem chega e para quem vai pelos ares do Brasil.
Mas a cidade é também das grandes contradições, dos grandes problemas e ainda vive muito do que foi no passado. É uma cidade toda dividida parte de seus habitantes vivem de costas para a cidade. Moram lá, mas gastam seu dinheiro na vizinha capital. Ela para muitos é uma cidade dormitório, devido a isto e outros problemas é uma cidade em que o poder público arrecada pouco. O pacto federativo e a economia local não contribuem com sua sustentabilidade.
As contradições vêm já no aspecto geográfico: é a segunda maior cidade do estado com um dos menores territórios, não tem área rural sustentável, logo não pode viver de agricultura, nem da pecuária. A sustentabilidade terá que brotar na zona urbana e dos serviços que nela surgirem. Dai o título de cidade industrial ostentada durante anos. Mas onde foram parar as indústrias? Foram embora, atravessaram a ponte. Hoje precisam voltar.
Os grandes são pequenos porque sempre apequenaram ao usufruírem de suas riquezas, de seu dinheiro, de seu povo e pouco devolveram. São pequenos porque sempre usaram suas margens como trampolim para voos mais altos. São pequenos porque sempre atravessaram a ponte em busca de poder e riquezas individuais. São pequenos porque sempre a trataram como extensão e não como razão de um povo. São pequenos porque sempre a viram como um grande dormitório sempre cheio de consumidores ou de eleitores. A prática se dá por empresários e por políticos também. Apenas a usam.
Várzea Grande, onde os pequenos são grandes porque nunca desistiram, porque ali moram e não apenas dormem. Porque ali vivem, não apenas passam. Porque ali trabalham, não apenas votam. Porque amam este trecho de chão. Porque de sua terra tem orgulho, não apenas bens. De seu chão sustentam seus filhos, não apenas fincam propriedades para esperar valorização. São grandes porque resistem aos maus tratos, aos maus administradores, ao desprezo político, as vaidades e os descasos dos poderosos.
Várzea Grande é o vizinho mais próximo da capital mato-grossense e a cidade mais ao centro da América Latina. Fica a direita da margem do rio Cuiabá, como um escudo protegendo a entrada de quem vem das fronteiras desta nação. Várzea Grande é entrada e saída, é onde os caminhos se encontram. Várzea Grande é viva, mas ela precisa mais que isso.
Várzea Grande hoje é uma cidade que precisa de um centro, de um shopping (em construção), de um cinema, de uma repetidora de TV, de uma rodoviária, de trabalho, precisa de saúde, educação e segurança. Várzea Grande precisa de quem a ame de verdade para deixar de ser a maior cidade de Mato Grosso, após a capital, com as maiores necessidades, apesar da vizinhança.
Transformar a cidade é gerar auto sustentabilidade. Se tudo passa por Várzea Grande, porque não transforma-la no maior centro de distribuição e abastecimento da América Latina? Um porto seco, uma área destinada ao armazenamento e outra a industrialização e a distribuição de produtos. Para tanto precisa de planejamento, incentivo e ações que visem algo mais que política. Precisa urgente da união de seus moradores, de seus empresários, de seus gestores, uma união que vá além dos desejos individuais e dos interesses partidários.
Várzea Grande não pode mais viver só do aeroporto e das promessas eleitorais. A cidade precisa de investimentos concretos e pontuais. A cidade precisa dar o poder de administrar ao seu próprio povo, a sua gente. Gente que nela habita. Gente que ama. Gente que sofre. Gente que chora e gente que luta. Gente que pensa no bem da cidade e no bem de seu povo. Porque Várzea Grande é, acima de tudo, esperança de dias melhores, de vida melhor. Várzea Grande é grande pelos pequenos que nela habitam.
João Edisom de Souza é Analista Político e Professor Universitário em Mato Grosso.
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