Paralisação de 24 horas atinge apenas serviços que não são urgentes.
Dezessete hospitais filantrópicos e beneficentes de Mato Grosso paralisam parte das atividades nesta quinta-feira (25) em protesto contra o governo federal e a atual tabela de pagamentos do Sistema Único de Saúde (SUS) pelos serviços contratados.
A paralisação em Mato Grosso é parte de um protesto em todo o país, o Dia Nacional de Luto pela Crise das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos, que cobra reformulação da tabela do SUS.
Em Mato Grosso, os hospitais filantrópicos - como a Santa Casa de Cuiabá, o hospital Santa Helena e o Hospital do Câncer, para citar alguns - são responsáveis por atender 81% da demanda de pacientes do SUS, segundo a presidente da Federação das Santas Casas e dos Hospitais Filantrópicos do estado, Maria Elisabeth Meurer Alves.
Nesta quinta-feira, foram paralisados nas 17 unidades filantrópicas de Mato Grosso apenas procedimentos que não são de urgência e que podem ser remarcados sem risco para o tratamento dos pacientes, como serviços ambulatoriais e cirurgias eletivas. No Brasil, a mesma paralisação está sendo adotada por mais de dois mil hospitais e Santas Casas.
O motivo é a inviabilidade financeira dos serviços contratados pelo SUS junto a esses hospitais. O médico Marcelo Sandrin, do Hospital Santa Helena, em Cuiabá, explica que a tabela de pagamentos do governo federal tem deixado as unidades de saúde "no vermelho".
"O objetivo maior da paralisação é alertar a população sobre o problema, não há o intuito de prejudicar ninguém. Os hospitais estão trabalhando combalidos, só falta serem abatidos. Este é um momento de reflexão. Não adianta candidatos dizerem que vão construir mais hospitais se não conseguem manter os que já estão aí. Todos estão operando no vermelho, tal é a balbúrdia que se instalou na tabela SUS", criticou.
Tabela defasada
A reclamação de Sandrin é a defasagem nos valores pagos pelo SUS, que vai de 40% a até 276%, segundo a presidente da Federação em Mato Grosso, Maria Elisabeth.
Corredores do Hospital do Câncer, em Cuiabá,
ficaram vazios. (Foto: Renê Dióz / G1)
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O presidente do Hospital do Câncer de Mato Grosso, Laudemi Moreira, exemplifica a situação. Um simples exame de glicemia, segundo ele, custa ao hospital cerca de R$ 4,00, considerando os insumos, a mão-de-obra e a estrutura envolvidas. Só o valor do kit para o procedimento é de pouco mais de R$ 2,50. Entretanto, para cada exame desse, o SUS paga ao hospital apenas R$ 1,82.
A defasagem atinge também os procedimentos mais complexos, como cirurgias de alto risco, envolvendo cirurgiões, assistentes, anestesistas, equipe de enfermagem, equipamentos caros e estrutura utilizados às vezes ao longo de mais de seis horas. Moreira revela que esses procedimentos não são pagos pelo SUS em mais de R$ 500 ao hospital que os realiza.
O resultado é um déficit de R$ 15 bilhões nas contas de Santas Casas e hospitais filantrópicos em todo o Brasil, segundo cálculos atuais.
Desde 2002, segundo Moreira, uma média de quatro entidades de saúde de referência no terceiro setor têm fechado as portas no país a cada ano por insustentabilidade financeira.
São mais de 40 mil leitos hospitalares perdidos no Brasil desde então e cerca de mil em Cuiabá. “O que queremos é dar um grito de alerta”, resumiu Moreira sobre o Dia Nacional de Luto.
No Hospital do Câncer em Cuiabá, segundo a diretora clínica Lilian Audi, apenas 29 cirurgias já agendadas há mais de um mês pela Central de Regulação do SUS devem ser realizadas neste dia de paralisação. Elas são procedimentos oncológicos e que, caso desmarcadas, poderiam gerar riscos ao tratamento dos pacientes. As cirurgias foram mantidas assim como serviços de quimioterapia, radiologia e exames laboratoriais que exigem preparação prévia.
Apenas serviços ambulatoriais foram paralisados nesta quinta-feira no Hospital do Câncer, o que já provocou um esvaziamento da unidade, onde a movimentação diária costuma ser intensa.
Fonte: PORTAL NOPODER
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