sexta-feira, 21 de setembro de 2012

“PALAFITAS, TRAPICHES, FARRAPOS”

Desde a infância no Brasil a maioria das pessoas é educada numa doutrina cristã em que se deve amar ao próximo e a Deus acima de tudo, de maneira espontânea e livre de pensamentos contraditórios e sentimentos negativos. Depois ao longo do tempo ainda continua a observar que mesmo as autoridades públicas, baseadas nos aprendizados e em suas leis procuram aplicações para o “bem” da coletividade. Bem. Pelo menos é essa a intenção.

Esta semana algumas notícias chamaram a atenção. Mas a do incêndio na favela do moinho em São Paulo foi muito forte e marcou bastante. E parece que já era um fato repetitivo que ocorre ao longo dos anos. O fogo dessa feita atingiu muitas formas de “moradias” naquela favela e até um viaduto. Mas o que chamou a atenção foi que muitos ficaram “desabrigados”... Ora, desabrigados já eram ainda antes do incêndio! Moram ainda na favela. Portanto, desabrigados ainda são!

Apenas para compreensão: Geralmente surgem nos noticiários matérias sobre punições a empresários, feitas pelos Ministérios do Trabalho e Ministério Público, por manter empregados no campo morando em moradias simples e rústicas, ou seja, em condições comparadas a de escravos. Não querendo generalizar e nem desvirtuar o trabalho destes. Há casos merecedores dos rigores da lei. Mas, muitas vezes podem existir punições a empresários, que garantem sustento a pessoas com empregos bem remunerados no campo. De onde muitos dos trabalhadores garantem qualidade de vida e as suas moradias mais dignas na cidade. Desse trabalho no campo, sustentam a educação de filhos e dão manutenção da família. Porém, o poder público assim, considera situações em que se encontram trabalhadores, (que muitas das vezes, é excelente se comparados a de favelados), como semelhante à escravidão. Aplausos merecidos devem receber por transformar a vida dos trabalhadores rurais!

Se assim ocorrer no campo com empregadores e empregados, e se o poder público ver pune! Aplausos são dados! Então, daí pode-se concluir que o poder público já sabe então que a situação dos favelados é pior a que se tem condenado no campo! Ora, então porque não fazer nada em benefício dessa gente sofrida? Não dá para diferenciar as situações. Os Ministérios que determinam qualidades de moradias para trabalhadores no campo são os mesmos que estão vendo o nascimento e crescimento das favelas nas cidades. Então porque ainda permanecem as pessoas a viverem nessas condições indignas? São condições análogas a que? Refugiados de guerra? O poder público sabe dar resposta e gerar o fim desse drama no país, que deve ser meta a ser cumprida de imediato.

O mesmo poder público que condena tanto situações indignas e análogas à escravidão de trabalhadores rurais até bem remunerados. Que pune com mão pesada o empregador... Porque não obriga os gestores das cidades a corrigirem a situação indigna do povo, que vive em situações de constantes acidentes humilhantes, que a mídia tem noticiado, e como ocorrem em diversas cidades do país? Há pesos diferentes e medidas desiguais sendo usadas? Está faltando leis para o óbvio? Só o poder público para explicar! Podem vir a comentar: “Sonho de Ícaro!”

Pois bem, tudo isso exposto pode-se concluir que, o que se tem ensinado e aprendido ao longo da vida, não se tem praticado! Nem mesmo por muitas religiões e religiosos. Falta mais amor ao próximo e mais compaixão certamente! Quanto ao governo, só se nota existir cobrança de leis contra pessoas em formas de multas e punições...

Ao poder público cabe lançar seus olhares sobre essas situações, através do MP, do Legislativo e mesmo do Judiciário. O Brasil é um país com riquezas imensas, mas sem que se disponibilizem ao seu povo, por questão de excessos de burocracias e falta de investimentos significativos na educação, emprego e renda, e saúde. No campo, temos ainda uma floresta frondosa e exuberante capaz de produzir madeira “ad aeternum”, se bem conduzida através do manejo florestal sustentável. Servindo esta floresta como fonte de matéria-prima para mais moradias e trabalho dignos.

Ora, as religiões neste país, que tanto pregam o amor, dão sinais de não estarem visitando necessitados nem em hospitais públicos, nem assistem o sofrimento de pessoas necessitadas como a dos favelados! E dentre o poder público e a população tem imperado a falta de compaixão, a falta de solidariedade, a falta de boa vontade e a falta de caridade. Pois situações como essas geradas pelo incêndio perduram por longos anos por falta de ação. Onde crescem “palafitas, trapiches, farrapos”, deixados de herança aos “filhos da mesma agonia”! Donos da esperança que ainda vem só das antenas das TV’s!

Domingos Sávio Bruno é Engenheiro Florestal em Mato Grosso - Email: dosaviob@gmail.com


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